Como surge o carro antes do carro
Apesar de o Brasil não contar com nenhuma montadora 100% nacional desde a falência da Gurgel, em 1995, isso não significa que os nossos engenheiros não estão ocupados. Desde a década de 1970, com o VW Brasília, o País sempre contou com projetos exclusivos, pensados, desenvolvidos e vendidos aqui e também no exterior. VW Gol, Fox, Chevrolet Celta, Ford Ecosport e Fiat Uno são exemplos do que a criatividade nacional pode criar.
Qual é o caminho que o carro percorre desde a folha em branco a até o produto pronto? A trilha é longa e pode levar mais de dois anos para que um modelo novo chegue às ruas. Luiz Alberto Veiga, diretor de design da Volkswagen ainda explica que atualmente, o processo é mais ágil que no passado. "Com a ajuda dos computadores, tudo está mais rápido. Depois que o projeto está aprovado, não há mais margem para erros ou mudanças. Com as fórmulas matemáticas, o mundo virtual torna o processo mais preciso"
PASSO 1- A IDÉIA
Os designers não acordam no meio da noite com uma ideia para um carro novo. A origem geralmente passa por sugestões dos próprios consumidores da marca ou de tendências que a área de marketing da montadora identifica. São observados também resultados de pesquisa de campo com compradores em potencial, além do estilo de vida dessas pessoas, para adiantar o que o consumidor vai querer em alguns anos.
PASSO 2- O DESENHO
Uma vez definidos o segmento do carro e os objetivos que ele tem de cumprir, os designers começam os traços para dar forma à ideia original. "Esta é parte mais romântica e mais curta do processo", diz Veiga. "O designer não passa o dia inteiro desenhando". O profissional pode tanto usar papel e caneta como programas de computador, mas o meio virtual é o mais utilizado para agilizar o processo.
O desenho não é feito "à mão livre". Um dos desafios da equipe é conseguir captar a essência da ideia para o carro sem deixar de lado a identidade da marca, como explica Veiga. "Um VW precisa parecer simples e funcional, enquanto um Audi tem de ser visionário e exclusivo". Esse pensamento se estende por todas as marcas do grupo VW e é por isso que o Gol atual remete a vários carros da marca, desde o Fox a até o Passat.
No Brasil, a Volkswagen possui 70 profissionais na área de design que dividem seu tempo entre o Brasil e a matriz na Alemanha. Além disso, também analisam o que já é feito na concorrência para saber a realidade atual do mercado.
Package significa "pacote", em inglês, e, para um protótipo em desenvolvimento, significa a fase do projeto que corre paralelamente aos desenhos. Neste caso, há diversos cálculos matemáticos para verificar as medidas e a disposição de equipamentos no veículo. É aí que se definem a distância entre o assento e o volante, as pernas e os pedais, o campo de visão do motorista, localização dos equipamentos do carro etc. "No Brasil, temos de trabalhar com medidas entre 1,5 m e 1,95 metro. Todas precisam funcionar tanto para o mais baixo como para o mais alto". É nessa fase em que a silhueta do carro começa a surgir.
Com o desenho definido, é hora de sair do mundo virtual. Começa a fase do "clay", nome dado à argila usada por designers e escultores para fazer os primeiros modelos físicos do protótipo. "São construídos entre dez e 15 modelos em escala 1:4 que são feitos para estudar as formas, mas nenhum deles é apenas um esboço. Todos precisam ser viáveis", conta Veiga.
Nessa parte do processo, a equipe de engenharia avançada e a diretoria da empresa começam a dar dicas de como o carro deve ficar. Por exemplo, uma peça com detalhes muito complexos vai ser difícil de fabricar. É aí que a equipe de engenharia interfere para tornar o desenho possível na realidade.
Dos 15 modelos que chegaram até o "clay", cerca de três passam para o tamanho real, já pintado e com algumas peças de acabamento, como lanternas, maçanetas e rodas. "Nessa fase, o protótipo já está bem parecido com o produto final", complementa Veiga.
Este último modelo em argila ainda passa pelos primeiros testes em túnel de vento para conferir a aerodinâmica da carroceria. Por exemplo, se o modelo apresentar pouca sustentação no eixo traseiro em velocidade, pode-se mexer no assoalho ou adicionar um aerofólio para tornar a carroceria mais segura. Outra vantagem desse estudo pode ser visto no novo Gol: as pequenas aletas externas nas lanternas traseiras não são enfeite: servem para não deixar acumular sujeira na parte de trás do carro.